O Formalismo Russo: O que importa é a Obra

O Formalismo Russo: O que importa é a Obra

O Formalismo Russo foi um movimento intelectual vibrante que explodiu na cena literária e linguística da Rússia, lá pelo início do século XX. Imagine um grupo de acadêmicos e críticos, cansados da forma como a literatura era analisada. Naquela época, a crítica se perdia em discussões sobre a biografia do autor, o contexto histórico ou as mensagens morais dos textos. Eles queriam mudar isso, e foi aí que o Formalismo nasceu, com um lema simples e revolucionário: o que importa é a obra em si.

Para os formalistas, o foco não era o que o texto dizia, mas como ele dizia. Eles buscavam uma abordagem científica para a literatura, dissecando os textos para entender seus mecanismos internos. Eles defendiam que a literatura tinha suas próprias regras e particularidades. O principal conceito que desenvolveram foi o de estranhamento, ou ostranenie. A ideia é que a arte, especialmente a literária, nos faz ver o mundo de uma forma nova, quebrando a automatização da nossa percepção. Um escritor não descreve uma cadeira, ele a faz parecer estranha e interessante de novo, forçando o leitor a olhar para ela com olhos frescos.

Nesse movimento, surgiram nomes que se tornaram gigantes na teoria literária. Viktor Chklovski, por exemplo, foi um dos fundadores e o principal defensor do conceito de estranhamento. Ele acreditava que a arte existe para nos ajudar a recuperar a sensação da vida, para "tornar a pedra pedregosa de novo". Outro nome importantíssimo foi Roman Jakobson, um linguista que levou as ideias formalistas para a linguística, expandindo o impacto do movimento para além da literatura. Ele explorou as funções da linguagem, mostrando como a forma do texto molda a sua mensagem. E não podemos esquecer de Boris Eikhenbaum, que contribuiu com estudos detalhados sobre a prosa e o ritmo na poesia.

Embora o Formalismo Russo tenha tido uma vida curta, sendo suprimido pelo regime soviético na década de 1930, seu legado é imenso. Suas ideias não morreram. Elas viajaram para o Ocidente e se tornaram a base de outras correntes de pensamento, como o Estruturalismo. Hoje, na academia, os conceitos formalistas continuam vivos e são ferramentas essenciais para a análise textual. O foco na forma, na linguagem e nos dispositivos literários que os formalistas propuseram é a espinha dorsal de muitas análises em cursos de literatura e linguística ao redor do mundo. A busca por entender como um texto funciona, e não apenas o que ele significa, é a grande contribuição desse movimento que, mesmo após cem anos, ainda nos ensina a ler com mais atenção e profundidade.

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