O Marxismo na Crítica Literária

O Marxismo na Crítica Literária

A teoria marxista, surgida das ideias do filósofo, economista e revolucionário alemão Karl Marx, oferece uma das abordagens mais influentes para a crítica da sociedade e da cultura. No campo da literatura e da linguística, o Marxismo não se limita a analisar o que um texto diz, mas, crucialmente, investiga as condições materiais de sua produção, sua relação com as classes sociais e seu papel na manutenção ou subversão do status quo.

O Que É o Marxismo na Crítica Literária?

A crítica literária marxista parte do pressuposto de que a literatura e a arte em geral são parte da superestrutura de uma sociedade, que é moldada pela sua estrutura econômica ou base. A base é composta pelas forças e relações de produção (quem possui os meios de produção, quem trabalha), enquanto a superestrutura inclui a cultura, a religião, a política e a lei.

A crítica marxista busca responder a perguntas como:

Classe e Ideologia: Como a obra literária reflete ou esconde as tensões entre as classes sociais (burguesia e proletariado)? Qual é a ideologia (o conjunto de crenças e valores de uma classe) que o texto promove?

Produção e Consumo: Quem escreveu o texto? Para quem? Em que condições materiais (editoras, mecenas, mercado)? E como o texto é consumido por diferentes classes sociais?

Função Social: O texto serve para manter a ordem social (pela propaganda, pela distração) ou para incentivar a revolução e a conscientização de classe?

O marxismo na crítica literária, portanto, não se contenta com uma análise formal do texto, mas o enquadra em seu contexto histórico e econômico, revelando as relações de poder que o sustentam.

A Origem e Seus Precursores

O Marxismo na literatura não surgiu com um manifesto ou com uma única pessoa cunhando o termo. Ele se desenvolveu organicamente a partir das ideias de Karl Marx e Friedrich Engels. Embora Marx e Engels não tenham criado uma teoria literária formal, suas reflexões sobre a arte, a ideologia e a base econômica da sociedade lançaram as sementes para o que viria a ser a crítica marxista.

Eles argumentavam que a arte, mesmo que pareça autônoma, é sempre um produto de seu tempo e de sua classe social. Engels, por exemplo, comentou a obra de Balzac, um autor que ele considerava um gênio realista, mesmo que Balzac, um monarquista, tivesse uma visão política oposta à sua. Engels admirava a capacidade de Balzac de representar as contradições da sociedade francesa da época, revelando, contra suas próprias intenções, a decadência da aristocracia e a ascensão da burguesia.

O desenvolvimento do Marxismo como uma teoria literária completa veio com pensadores posteriores, principalmente no século XX. Entre os mais influentes estão:

Georg Lukács: Crítico húngaro que argumentou a favor do realismo na literatura, vendo-o como a forma mais eficaz de representar a totalidade das relações sociais. Ele via o romance realista do século XIX como o auge da arte por sua capacidade de mostrar a luta de classes de forma convincente.

Louis Althusser: Filósofo francês que reinterpretou o Marxismo e introduziu o conceito de aparelhos ideológicos de Estado (como a escola, a família e a mídia) que, de forma sutil, transmitem e mantêm a ideologia dominante. Para ele, a literatura pode ser tanto um desses aparelhos quanto um espaço para revelar suas contradições.

Terry Eagleton: Um dos mais proeminentes críticos marxistas da atualidade. Em seu livro Literary Theory: An Introduction (1983), ele popularizou e simplificou as complexas ideias marxistas e as aplicou à crítica literária, argumentando que a teoria literária não é neutra, mas sempre política.

O Marxismo Hoje

O Marxismo, embora tenha sido ofuscado por outras abordagens no final do século XX, continua a ser uma ferramenta de análise vital e relevante. Ele não é mais visto como uma doutrina rígida, mas como uma lente crítica que pode ser combinada com outras teorias, como o Feminismo e a Crítica Pós-Colonial. A prática é desenvolvida de diversas maneiras:

Crítica Marxista-Feminista: Analisa como a opressão de gênero e a opressão de classe estão interligadas. Por exemplo, como as mulheres de baixa renda são representadas na literatura e como suas lutas são invisibilizadas ou cooptadas.

Crítica Pós-Colonialista: Usa as ferramentas marxistas para entender como a exploração econômica e a dominação colonial se manifestam nas narrativas. Analisa como a literatura de ex-colônias reflete a luta pela autonomia e a resistência à exploração.

Linguística e Sociolinguística: Estuda como a linguagem está ligada às estruturas sociais e de poder. Examina como o uso de dialetos ou de gírias, por exemplo, pode marcar a identidade de classe e como isso é refletido na fala dos personagens literários.



A crítica marxista nos convida a ir além do que o texto diz e a perguntar por que ele foi escrito e qual é a sua função social. Ela nos ensina que, para entender a literatura, precisamos entender o mundo de onde ela veio, com todas as suas contradições, lutas e desigualdades.

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